São de alta significação todos os ensinos de Jesus, que os evangelistas registraram em suas narrativas, ora obedecendo a uma determinada ordem da ocorrência dos fatos registrados, como se observa nos Evangelhos de Mateus, de Marcos e de Lucas, ora grupando as lições do Mestre pelas suas significações, independentemente da ocasião em que ocorreram, como está evidente nas narrativas do evangelista João.
O que podemos observar no conjunto das lições, dos ensinos variados e das exemplificações do Mestre Incomparável, é a grande importância de tudo o que dele partiu, com o objetivo de facilitar aos homens a compreensão correta das leis divinas que regem o comportamento de todos os seres que estão subordinados a elas, para que optem sempre pelo caminho do bem e evitem o do mal.
A prática do mal é uma decorrência do livre-arbítrio com o qual foram criados todos os Espíritos, opção que se interliga com a ignorância das disposições das leis divinas, inclusive no que se refere à responsabilidade pelas ações praticadas e por suas consequências.
Podemos constatar a suprema sabedoria com que Deus conduz todas as coisas, ao designar Jesus como Governador Espiritual da Terra, desde sua formação, antes mesmo que a Humanidade começasse a habitá-la, e que o Mestre sempre enviou emissários ao nosso mundo, desde os tempos primitivos, com o objetivo de esclarecer seus habitantes, naturalmente dentro da capacidade de entendimento de cada grupo, povo ou raça.
Nos períodos históricos, temos conhecimento da presença desses missionários registrada por diversos povos e civilizações, auxiliando-os na compreensão da vida e deixando ensinamentos que se transformaram em religiões, filosofias, usos e costumes compatíveis com o grau evolutivo dos beneficiários.
Há cerca de dois mil anos, o próprio Cristo veio conviver com os homens, para transmitir-lhes ensinamentos e exemplos que ficaram registrados em seus Evangelhos, escritos por dois de seus apóstolos (Mateus e João), e por dois discípulos e seguidores (Marcos e Lucas).
Todas as lições do Cristo constituem-se em normas e padrões destinados a ser observados e vivenciados pelos homens, para que possam evoluir e se libertar das provas e expiações a que estão sujeitos, por suas ignorâncias e atrasos.
Parte Ele do amor a Deus sobre todas as coisas.
É o amor o sentimento essencial do qual derivam todas as demais qualidades morais dos indivíduos.
Há nesse ensino uma coerência facilmente perceptível, por ser Deus o Criador supremo e único de tudo o que existe.
Diante dessa verdade fundamental, modificaram-se todas as crenças politeístas que subsistiram e imperaram por muitos milênios entre os povos da Antiguidade.
O Deus único, revelação que viera com os hebreus, só com o Cristo se tornou crença generalizada e fundamental de todas as religiões.
Jesus sempre se referiu ao poder, à inteligência suprema, à paternidade de Deus e à submissão à sua vontade.
Ao lado do amor a Deus, como o ápice dos sentimentos que as criaturas devem cultivar, o Mestre colocou o amor ao próximo como a si mesmo, logo em seguida.
São os dois mandamentos essenciais para que o Espírito desperte da sua condição de inferioridade e consiga iluminar-se, perdoando todas as injúrias, ofensas, infamações e todas as afrontas comuns nas relações entre criaturas moralmente atrasadas.
Além disso, o ensino visa o combate permanente ao egoísmo, ao orgulho, à avareza, à inveja e a todas as inferioridades próprias das individualidades habitantes de um mundo com grandes necessidades morais.
Por isso, a redenção de todos nós pela aceitação e prática do amor a Deus e ao próximo, tal como está explícito nos dois magnos ensinamentos do Cristo, é muito difícil para os habitantes da Terra.
A evolução moral é lenta e trabalhosa, exigindo de cada criatura, além da aceitação dos princípios norteadores, sem quaisquer restrições, uma vontade firme e constante no combate às inferioridades, com o inabalável desejo de substituí-las pela prática do bem e pelo sentimento do amor.
Essa transformação é diferente em cada Espírito, de conformidade com as condições íntimas de cada um, da vontade individual de potencialidade variável e também dependendo das suas vidas passadas.
Não devemos, pois, estranhar que, passados dois mil anos dos ensinos e exemplos do Cristo, embora aceitos com certa facilidade, sejam de tão difícil execução e vivência.
É importante compreender a necessidade de que nossa consciência esteja limpa e sem reservas inferiores, já que o amor a Deus e aos nossos semelhantes precisa ser puro e sincero.
O caminho certo para se obter uma consciência pura e livre é o recomendado por Jesus em suas prédicas constantes e resumidas na síntese: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. (João, 14:6.)
É o entendimento e a aplicação de todas as leis morais, interpretadas à luz do Consolador prometido e enviado pelo Mestre.
Seguir esse “caminho” implica em despir-se a criatura de uma série de preconceitos, tradições enganosas, futilidades, egoísmos e incompreensões, que a vida humana oferece, em contradição com as leis divinas e com os exemplos que Jesus dedicou aos que o ouviram e a toda a posteridade.
Por isso, o Espiritismo adverte que os atos e cultos exteriores não produzem os efeitos deles esperados e que somente as boas ações, praticadas com desprendimento e visando o bem, caracterizadas pelo amor e caridade, predispõem seus executores para a evolução e a caminhada para o progresso.
Segundo referência do próprio Cristo, o Espírito de Verdade não era conhecido pelos homens.
Mas agora já se encontra no nosso mundo, portador de conhecimentos antes desconhecidos, e possibilitando que a Humanidade perceba fatos novos e um mais vasto horizonte, libertando-se dos dogmas impróprios, das interpretações literais e dos formalismos ilusórios.
É sempre necessário extrair da letra o espírito que vivifica, sob pena de cairmos nos mesmos erros e enganos de nossos antepassados.
O Espiritismo, como revelação dos Espíritos superiores, auxilia-nos o entendimento das realidades novas, antes desconhecidas. Daí a necessidade de estudá-lo, vivenciá-lo e propagá-lo.
Jesus sentenciou: “Conhecereis a verdade e ela vos fará livres”. (João, 8:32.)
A presença do Consolador, o Espiritismo, marca o início de uma Nova Era.
Os grandes desvios do Cristianismo primitivo deveram-se, em grande parte, às interpretações literais dos Evangelhos.
Jesus utilizava-se das parábolas, das alegorias e comparações para fazer-se entender pelas massas populares e até por seus discípulos, em uma sociedade atrasada e influenciada por crenças que o Mestre procurou retificar.
Às explicações alegóricas, não entendidas nas suas verdadeiras significações, somaram-se os diversos interesses daqueles que se colocaram à frente do movimento renovador, daí resultando o que hoje constitui as igrejas e organizações denominadas cristãs, poderosas e influentes, mas que se distanciaram dos objetivos do Cristo, dos seus ensinos e exemplos.
Em decorrência de sua previsão do que viria acontecer, prometeu Ele pedir ao Pai a vinda de um outro Consolador, para ficar com os homens, relembrar seus ensinos e trazer o conhecimento de coisas novas.
A presença do Espiritismo no mundo, a partir dos meados do século XIX, tendo à frente o Espírito de Verdade com a colaboração de outros Espíritos instrutores, tudo coordenado pelo Missionário Allan Kardec, é a efetivação da vinda do Consolador prometido.
A nós, espíritas, compete reconhecer a orientação superior do Cristo, estudar os fatos novos e divulgar a Doutrina Consoladora, na medida de nossas forças.
As ideias novas que chegam a um mundo atrasado, como o nosso, mesmo que tenham o mérito de inovar para o bem de todos, encontram sempre a oposição e a resistência daqueles que se sentem prejudicados pelas propostas inovadoras.
Se a inovação se caracteriza por representar a verdade, assentando-se em argumentação sólida, os opositores atiram-se contra ela e contra os seus seguidores.
O que ocorreu com o Cristo, quando veio à Terra com sua mensagem renovadora para toda a Humanidade, em que a verdade transparecia em contraposição a entendimentos antigos e ultrapassados, é uma demonstração inequívoca da dificuldade de se implantar as inovações verdadeiras e retificadoras de erros aceitos e defendidos pelos homens.
O Mestre Jesus visava corrigir enganos e equívocos arraigados, substituindo-os por entendimentos novos, baseados nas leis divinas do amor a Deus e ao próximo.
O povo hebreu, que já havia sido beneficiado com os dez mandamentos recebidos por Moisés, não percebeu a grandeza e a superioridade das novas revelações trazidas pelo Cristo.
O Sinédrio, representando as classes dominantes, rejeitou os ensinamentos retificadores e foi além: perseguiu e prendeu o Mestre, condenando-o à morte infamante.
Atualmente, o Espiritismo, que representa o Consolador prometido e enviado por Jesus, com o advento do Espírito de Verdade entre os homens, é também combatido e incompreendido, por representar uma nova face da verdade e da vida.
Por isso, torna-se conveniente relembrar a responsabilidade dos espíritas sinceros, que precisam estar atentos aos novos tempos, para a realização da grandiosa tarefa da regeneração deste mundo, com o aprimoramento moral da Humanidade, conforme previsão da Espiritualidade Superior.
Fonte: Revista Reformador, da FEB, de julho de 2009